Jacques Martial descreve-nos o Mémorial ACTE em Guadalupe

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Jacques Martial, presidente do Mémorial ACTe, lugar de memória inaugurado em Guadalupe em 2015.
© G. Aricique / Mémorial ACTe - Jacques Martial, presidente do Mémorial ACTe, lugar de memória inaugurado em Guadalupe em 2015.

Tempo de leitura: 0 minPublicado em 9 dezembro 2017, atualizado em 6 julho 2020

Jacques Martial é, antes de mais nada, uma voz baixa, quente e profunda. No tempo em que ele era ator e realizador, emprestou-a, entre outros, a Denzel Washington nos filmes em versão francesa. Agora, o presidente do Mémorial ACTe, inaugurado em Guadalupe em 2015, dedica-se a este lugar de memória, que pretende inspirar o futuro. Visita guiada com um entusiasta.

Como é que o Mémorial ACTe foi imaginado e que mensagens pretende transmitir?

O Centro das Caraíbas sobre a expressão e a memória da escravatura e do comércio de escravos é, acima de tudo, um local simbólico, um memorial em homenagem aos antigos escravos. Mas, para além dessa função principal de memória e de recolhimento, é igualmente um museu inovador pela sua arquitetura e cenário que une a História, os objetos do passado às novas tecnologias e a arte contemporânea. Ao criar uma memória coletiva partilhada sobre o tráfico de escravos negros e a escravatura, o Mémorial ACTe é essencial para a compreensão do mundo atual e das relações interculturais. Deve permitir aceitar o grande desafio do século XXI, o de viver em conjunto.

Concebido como um farol, o Mémorial ACTe é um edifício comprido revestido de rede prateada.
© G. Aricique / Mémorial ACTe - Concebido como um farol, o Mémorial ACTe é um edifício comprido revestido de rede prateada.

Conte-nos sobre o local e a arquitetura do Mémorial ACTe…

Concebido como um farol, o Mémorial ACTe é a primeira coisa que avistamos ao chegar pelo mar, na baía de Pointe-à-Pitre. Foi construído simbolicamente onde ficava a antiga maior fábrica de açúcar das pequenas Antilhas, onde era praticado ainda o trabalho forçado no século XIX. É um edifício com 240 metros de comprimento, revestido de rede prateada. Evoca as raízes aparentes das figueiras amaldiçoadas que se apoderam das paredes em ruínas, se insinuam, mas também ajudam a segurá-las. Esta rede reveste uma caixa preta, que representa o povo negro. Os fragmentos de quartzo que a adornam simbolizam as almas das vítimas do tráfico de escravos negros e da escravatura. Existe uma ponte entre o segundo andar e o Morne Mémoire, situado na colina ao lado, um jardim propício ao recolhimento que proporciona uma vista magnífica da baía.

As obras em destaque ajudam a causar emoção aos visitantes.
© G. Aricique / Mémorial ACTe - As obras em destaque ajudam a causar emoção aos visitantes.

Como é que se visita um local como este?

Desejamos que a visita seja o mais envolvente possível graças, nomeadamente, a um sistema de guia áudio em 6 línguas*, incluindo o crioulo. O objetivo é proporcionar aos visitantes uma experiência emocional, sensorial e inteligente. A exposição permanente permite-lhes familiarizarem-se com a história de Guadalupe e das Caraíbas, mas sempre relacionada com a grande História. Os mecanismos da escravatura são abordados na sua globalidade, da Antiguidade aos nossos dias. As projeções de vídeo, ambientes sonoros, terminais e mesas interativas auxiliam a visita. A Arte contemporânea ocupa um lugar primordial no Mémorial com a presença de obras ao longo do percurso.

Quais são as suas obras preferidas?

Fico muito impressionado com a Arbre de l'oubli, uma obra espetacular do artista camaronês Pascale Marthine Tayou. La Voleuse d'enfant, de Thierry Alet, um tríptico policromático experimental com um código de cores para cada letra do alfabeto que recria o Ave-Maria em três línguas, também é uma obra muito interessante, fazendo alusão ao Código negro (textos jurídicos que regulamentam a vida dos escravos negros nas colónias francesas no século XVIII, NR) exposto numa vitrina e que se pode virar as páginas de forma virtual.

Por Pascale Filliâtre

Jornalista-viajante. Muitas vezes fui ao fim do mundo para encontrar o que a França oferece ... filliatre.pascale@orange.fr

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